quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Nada

Exercício de Dramaturgia

Título da esquete:  

Nada (adaptação de texto de Emmanuel Carneiro Leão)

Personagens

Personagem 1:  um velho calvo de longas barbas, vestido de túnica branca drapeada e cingida nos rins.
Personagem 2: um jovem de terno e gravata, cabelos alinhados.

Cenário: 

negro e desnudo.  À direita, uma mesa, sobre ela um computador e uma cadeira com encosto.

Marcação inicial:

Personagem 2 sentado à mesa, digita.
Personagem 1 de pé, a dois metros da mesa, de tal modo que fique às costas do personagem 2

Iluminação inicial:  

Dois fachos de luz branca, intensa sobre o personagem 2 e meia luz sobre o personagem 1. 

Sonoplastia:  

o som de teclas em digitação já se ouve por 30 segundos antes da iluminação dos personagens.

Cena:

Personagem 1:  - Que nada é?

Personagem 2:  (para de digitar, levanta-se, volta-se para o Personagem 1 se posicionando atrás e junto da cadeira, responde condescendente como se a pergunta fosse tola) - É óbvio. Nada é o inexistente.

Personagem 1:  Mas, se nada é, já não é nada. De que vale saber tudo, se não sabe nada?

Personagem 2: (Perde o equilíbrio sobre os joelhos e discretamente se apoia no encosto da cadeira, em silêncio, volta a se sentar e recomeça a digitar, após 30 segundos, diz a si mesmo): - Vou achar uma resposta num instante, ele vai ver.

Após 30 segundos, a meia luz sobre o Personagem 1 se apaga lentamente, enquanto a luz sobre o Personagem 2 fica mais intensa.  Após, repentinamente se apaga e ouve-se apenas o som da digitação em completa escuridão.  Após 1 minuto, o som da digitação repentinamente também some.  O silêncio e a escuridão permanecem por mais 1 minuto.  Então os personagens 1 e 2 voltam a ser iluminados em meia luz.  O personagem 2, agora com o paletó displicentemente descansando sobre o encosto da cadeira, cabelo desalinhado, gravata frouxa, punhos da camisa desabotoados e as fraldas dela por sobre a calça, levanta-se e volta a se postar atrás da cadeira e de frente para o personagem 1, que permanece imóvel. 

Personagem 2:  (Passa as mãos para arrumar os cabelos, tira a gravata, a põe sobre o paletó e dobra as mangas da camisa) - Agora sei que não sei nada.  Mas, saber que não se pode saber de todo pode mais que não saber nada.

Personagem 1: (despe de sua túnica o torso, vai ao encontro do personagem 2, toca-lhe o rosto e põe-lhe olhos nos olhos) - Mas, mesmo com todo esse poder, saber não pode não saber que não sabe nada de todo.

Fim da cena

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