Filósofos costumam escrever,
escrever... Husserl aprendeu estenografia só para registrar mais rápido seus
pensamentos. Entre filósofos mais
conhecidos, sempre há textos menos comentados, estudados do que outros que são considerados
marcos para o pensamento de uma época.
Mas, às vezes, estes textos meio que deixados de lado contém registros
muito importantes sobre seu pensamento.
Nem sempre é um detalhe que só desperte interesse na exumação acadêmica
de um personagem histórico. Às vezes,
estes textos são desconcertantes. Isso
acontece com A religião nos limites da
simples razão, de Kant.
Com uma honestidade intelectual
incomum, Kant confessa nesse livro que debalde seus monumentais esforços de
pensamento, a crítica da razão prática não lhe parecia hábil em sondar o que
possa ser chamado de mal radical. Há
muitas expressões e linguagens que insinuam essa incapacidade humana de se
conciliar final e permanentemente com a sua natureza. Pecado original, alma imoral, pulsão de
morte, teatro da crueldade, a vida como ela é...
O que isso pode dizer sobre
compliance? A conduta de alguém nunca
será tão reta quanto um raciocínio puder lhe propor como dever. Como Kierkegaard soube descrever, só lhe
restará o desespero. Algo que foi
comoventemente retratado pelo suicídio do Inspetor Javert em Os Miseráveis, de
Victor Hugo. Uma política de compliance
que afinal proponha e exalte uma retidão de conduta como meta sua provavelmente
irá esconder muito mais do que mostrar. Vai
propor um programa que já nasce destinado ao fracasso, simplesmente porque
ofusca a humanidade com palavras esclarecidas.
Uma coisa é estabelecer protocolos de segurança para que se mantenham
aviões no ar conforme o programado.
Outra coisa muito diferente são protocolos que mantenham uma ética no ar
por uma questão de reputação.
Efetivamente, só sustentam moralismos.
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