Quem não conhece Chapeuzinho Vermelho? Mas nem todo mundo sabe que se trata de uma narrativa inaugural da modernidade: o conto de fadas. Essa literatura iniciada por Charles Perrault no sec. XVII será muito influente para o aparecimento do romantismo alemão. Ironicamente, em reação ao racionalismo cosmopolita francês que se espalhava no velho continente misturado às nuvens erguidas pelo tropel de Napoleão no sec. XIX. Os românticos alemães enfatizaram a vontade humana no motor da história e isso moldou o sujeito: a razão é impotente, se o sujeito não deseja a si mesmo no ato de vontade. Mas talvez tenha sido um inglês, Gilbert Keith Chesterton, num capítulo divertidíssimo de seu livro Ortodoxia publicado já no sec. XX quem melhor sintetizou o potencial dos contos de fada em delinear padrões arquetípicos. Disse ele que aprendeu mais sobre ética ouvindo as estórias fantásticas contadas por sua babá quando criança do que, adulto, lendo tratados que se propunham a explicar o tema e propor alguma deontologia.
Às crianças, dizemos que a moral
da estória de Chapeuzinho está na obediência.
Tivesse observado a condição dada por sua mãe, não teria exposto a si e
a terceiro em grave risco de um destino trágico. Mas, pode-se enfatizar o ato de vontade com
sua razão própria: pegar o atalho pela
floresta é eficiente para o legítimo
propósito de sua peripécia.
Em grande medida, gestão de
riscos e conformidade normativa tem os seus desafios sintetizados no dilema de
Chapeuzinho. Demorar-se, ou
arriscar-se. E, mais que uma mera
questão de vontade, nessa decisão insinua-se o desejo mortal que brinca de
esconde-esconde entre motivos e razões.
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