Domingo, 8 de setembro. Visitamos, eu e minha família, a família de uma amiga de escola de minha esposa. Casada com um coronel do Exército, somos agora vizinhos e eles moram na antiga residência oficial do Ministro do Exército nos tempos do Estado Novo, ali ao lado do solar do inesquecível Chalaça. Enfim, um domingo ameno à sombra de palmeiras imperiais.
Não deixei de me admirar com as voltas que o mundo dá. Ele está comandando o famoso Batalhão Zenóbio da Costa, da Polícia do Exército. No 7 de setembro, ele estivera lá, lidando com os garotos do "black block". No dia seguinte, estávamos nós, homens feitos, celebrando comunhão com nossas esposas e filhos em torno de uma refeição. Há 25 anos, contei a ele ali, eu estava em formações "Schwarzer Block" em Berlim e Hamburgo. Sim, eu também já fui um agitador anarquista desses que agora estão sendo presos.
Olhamo-nos e compreendemo-nos. A respeito dos acontecimentos do dia anterior, gás, feridos, gritos, fúria... concordamos: testosterona, impaciência e ilusão. Naquele momento, não iríamos discordar em nada, mesmo. Éramos gratos pelo que tínhamos ali conosco. O bastante. Nossas esposas e filhos reunidos partilhando pacificamente o alimento.
A Polícia do Exército foi criada sob o comando do General Zenóbio da Costa no seio da Força Expedicionária Brasileira. E é justamente o seu 1o Batalhão, aquele que ocupa desde sempre o quartel da Barão de Mesquita, originalmente formado pelos heróis da luta contra a barbárie e pela democracia durante a 2a Guerra Mundial.
Que bem se pode fazer, quando se quer preservar a memória do mal em detrimento da memória do bem que se fez?
O coronel Luciano me sensibilizou. O Batalhão Zenóbio é um monumento à democracia brasileira pelos bons soldados que por lá passaram. Ele ainda me contou que, em 31 de março de 64, seu antecessor não se sublevou. Avisou à tropa que cumpriria até o fim o seu dever institucional de garantir a segurança do Jango (o seu embarque para o estrangeiro) e depois entregaria o batalhão. Por respeito, não foi deposto; foi reformado.
É verdade que gente má e suas vítimas por lá passaram nos anos de chumbo. Isso precisa ser apurado. Tampouco pode ser esquecido. Mas, de tanto que se aperta essa mesma tecla, é injusto e deseducativo para nossos filhos que lhes seja negada, na prática, a memória do que o Batalhão Zenóbio da Costa tem de melhor para nos lembrar.
E depois das voltas que o mundo dá, como você citou, "olhamo-nos e compreendemo-nos." Adorei!!!
ResponderExcluirAna