segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Pensando & Conhecendo X

Dez frases de Blaise Pascal pelo seu aniversário de nascimento

Sabemos que a probabilística foi esboçada a propósito do jogo de dados numa troca de cartas entre Blaise Pascal, um matemático e Pierre de Fermat, um advogado, lá pelo meio do sec.  XVII.    Olhando mais de perto o interesse de Pascal pela incerteza, vamos notar que chegava ao nível da obsessão.  Ou do acabrunhamento, se preferirem, para ser mais fiel ao que ele próprio chamou de effroi.  Ele soube colocar em xeque a mais famosa proposição apodítica da razão.  Pascal notou que, fora da geometria (foi aí que enganchou Descartes), uma demonstração discursiva de qualquer termo (na medida em que é, ela própria, composta por outros termos) também necessita de outras definições e demonstrações pressupostas para defini-lo e demonstrá-lo totalmente. Há uma regressão ao infinito imbricada nas próprias proposições, o que impossibilita um sobrevoo da razão por sobre um conceito evidenciado de infinito, eis que isso levaria a um acúmulo de complexidade da justificação da crença até o limite da sua totalização, que aí escapa do conhecimento: já se mostra inacessível por si mesmo.

Essa questão levou necessariamente (afinal, estamos lidando com pessoas que viviam no sec. XVII) a uma controvérsia acerca da relação entre razão e fé com todas as perigosíssimas implicações morais e de integridade física que tais especulações poderiam levar.  Saiu-se da saia justa com uma solução tão genial quanto simples.  A solução é conhecida como a aposta de Pascal.  Ele formulou 3 proposições  logicamente possíveis:  [1] creio que Deus exista;   [2] não creio que Ele exista; [3] não me decido que exista ou não exista.  Aparentemente, a regressão pascalina ao infinito levaria à adoção da proposição 3, mas Pascal a refuta.  Ele examina as consequências possíveis.  [1] Se Deus existe e eu creio Nele, o ganho é significativo; [2] Se Ele existe e não creio, a perda é significativa; [3] se Ele não existe e eu creio, a perda é insignificante ;  [4] se Ele não existe e tampouco creio, o ganho também é insignificante.   Há na aposta de Pascal uma profunda repercussão ética para a gestão de riscos no que se refere à responsabilidade objetiva numa tomada de decisão e racional para o enforcement do Direito Penal.

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