sexta-feira, 4 de novembro de 2016

ALGUNS COMENTÁRIOS SOBRE A CARTA ABERTA AOS PROFESSORES DE MEU FILHO NO PEDRINHO


Permitam-me insistir um pouco mais sobre o Prof. Kantorek. 

Mas, antes é importante se descolar do contexto de sua época para olhar para porque, pela obra de Remarque, Kantorek ainda vive. Há na memória e na reflexão de Paul Bäumer : 
"Vejo-o ainda à minha frente, e lembro-me de como o seu olhar cintilava através dos óculos, quando, com a voz embargada, perguntava: 
― Vocês vão todos, não é, companheiros? 

Esses educadores têm sempre os seus sentimentos prontos, na ponta da língua, e os ficam espalhando a todo instante, sob a forma de lições." 
Também é importante lembrar que muitos pais concordavam com Kantorek. O professor não era mal intencionado. Acreditava muito em suas próprias convicções e pensava estar fazendo o melhor pelos seus alunos. Quem poderia dizer que ele, e os pais, não tinham razão? 

Talvez eu perceba melhor o que tudo isso quer dizer, porque, como toda família de alemães, também guardo na lembrança um Bäumer bem próximo. Sim, meu avô recebeu sua cruz de ferro. Jovem e bravo. E lembro-me de sua casa, quando era criança e ele, um ancião. Sempre silenciosa e envolta na penumbra. Nas memórias das famílias alemãs, esse silêncio está muito presente e ainda hoje é lembrado.

 Meu avô lutou em trincheira por quatro anos. Um sobrevivente. E viveu uma vida de luto. O livro de Remarque ganhou uma transposição que se tornou um clássico do cinema. Seu fim é uma síntese do perigo de se incentivar jovens para a luta: Bäumer perdeu sua vida ao tocar uma borboleta.

Por que insisto com Nada de Novo no Front? Parece um ambiente oposto do que acontece no CPII. Mas há algo comum, na realidade. Estamos submetendo as narrativas de nossos filhos aos encadeamentos da razão. 

Trocando em miúdo, quando estimulamos nossos filhos a viverem no CPII seus dias de sonho em Woodstock (a utopia), não poderemos evitar que vivam as noites infernais de Altamont (a distopia): foi sob o olhar impotente de Mick Jagger que aconteceu o que John Lennon declarará: "O sonho acabou". 














O que quero dizer? Construímos um futuro melhor para nossas crianças, quando "nada" acontece. Faz "toda" diferença. Num cotidiano pacato de nossas casas e na regularidade da vida escolar, damos aos nossos filhos uma memória afetiva encantadora, na estabilidade das suas relações face-a-face. 

Mas, o que estamos fazendo? Jogando o CPII, e nossos filhos junto, no epicentro dos confrontos políticos de ocasião. Somos pais, não deuses! Não temos poder para livrar nossos filhos de desfechos trágicos, quando o sonho acabar. E, somos adultos! Nossos filhos ainda não sabem, mas nós já aprendemos que os sonhos são sonhos, porque acabam.

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