sábado, 16 de novembro de 2013

A gula e a luxúria

Beije-me com os beijos de sua boca!  Seus amores são melhores do que o vinho 
(Cântico dos Cânticos, Capítulo 1:versículo 2)
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue vive em mim e eu vivo nele. 
(João, 6:56)


Homens são condicionados pela natureza, mas o espírito ultrapassa a natureza e constitui a cultura.

Os homens vivem. E qual é o existencial comum a todo ser vivo? É a mortalidade. 

Mas, um sentido para morte, somos nós que damos.  Aos bichos não é dada essa liberdade. Até sentem dor; sentem medo. Mas não legam sentidos a essas sensações, o que requer valoração. Humanidade.



Comer é uma atividade vital. Todas as ações vitais, como comer, fazer sexo, respirar são brutais, dizem da vida.  Renunciar à possibilidade de comer carne por  valorar a morte é algo espiritual em sentido lato, mais que religioso. É sobrenatural.


Se existe uma desvalorização de atos brutais praticados para simplesmente satisfazerem sensações, tanta relevância ética então tem a prática de sexo só por prazer, por exemplo, porque isso afeta diretamente a relação com outra pessoa.   Pode o prazer ser recíproco e consensual, porém ainda assim será uma objetificação do corpo como meio para alcançar um fim, conquanto o corpo humano, como campo fenomênico da vida pessoal, já atrai para si a dignidade para além da reciprocidade e do consenso.

Uma dieta se legitima pela perspectiva do comedimento em exercício.  Prefiro a moral que restringe (mas não impede) o consumo da carne e define a gula como o mal. Bem como restringe e não impede o sexo por prazer, mas define a luxúria como o mal.




imagem 1: filme Sétimo Selo, de Ingmar Bergman (1956)
imagem 3: Wacław Wantuch.  www.waclawwantuch.com/
imagem 4: www.literaturaemfoco.com

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