A gestão de riscos é passar por um fino gelo entre a suspeita e a confiança. Os gestores de compliance correm risco, se desinteressarem pela experiência de se ser íntegro. Isso acontece, quando impõem um modelo heteronormativo de perceber e pensar conformidades, enquanto emulam engajamento e adesão. Pertinente então se perguntar pela circulação dos diferentes sentidos que assumem os processos de compliance. Os sentidos adquiridos dependem dos modos de sentir e agir mobilizados, quando os processos são estabelecidos, porque eles podem reforçar frustrações e dificuldades; a mobilização nem sempre é compartilhamento e engajamento nem sempre é cooperação. Os vínculos de confiança envolvem criação partilhada de sentidos, pois além da colocação das questões de conformidade, há novos encontros que se estabelecem. Um plano de integridade é um plano de experiências compartilhadas nas conexões entre sujeitos e mundos. No plano da integridade, a hierarquia da especialização é subvertida. O ethos da confiança está no plano da experiência, no manejo de vínculos, e não nos enquadramentos da deliberação baseada em cálculo de resultados. Neste sentido, toda confiança pressupõe alguma indeterminação que difere a coerência da linearidade. Neste ponto, engajamento não se reduz a uma oposição à recalcitrância. Eis que a integridade é completude dialógica que tensiona saberes e práticas. Enfim, o plano é comum, mas que haja esse coeficiente de indeterminação no espaço do diálogo - uma sintonia amodal (ritmos e velocidades) constituída de afetos e perceptos antes de uma ordem identitária ou representacional. É dessa sintonia que emerge a confiança. O desafio é identificar os dispositivos para esta sintonia, considerando que afetos não se confundem com os sentimentos, nem perceptos com percepções. Confiança não é uma questão de adesão, se não for antes uma questão de cultivo: se for baseado em termos preestabelecidos, não se dá a sintonia, pois esta só se faz com atenção às recalcitrâncias que emergem ao longo do caminho. Por isso, a confiança não se baseia em pilares, se não for para ser atento às passagens; às pistas.
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