Byung-Chul Han apropriou as sociedades europeias medievais, modernas e contemporâneas respectivamente pelo martírio, disciplina e desempenho. O que, por um signo, as identifica e em sincronia as diferencia como épocas? Dor é signo. Pelo martírio, a dor é gloriosa, purificação ou expiação. Pela disciplina, condicionamento ou formação. Mas para o desempenho, a dor é absurda; má per se, só pode significar disfunção.
Como signo, a dor é compositiva com a felicidade
– o feliz superou a dor e finalmente descansa. Quando a dor perde significação positiva para
a automotivação e otimização performática, a felicidade se torna dispositiva: ela
é coativa – um direito humano, uma máxima moral. Aí, a liberdade deixa de se opor e resistir à
vigilância. A vigilância, por sua vez
deixa de ser imposição pela disciplina; ainda que se mantenha regular. A vigilância é liberdade regulada: “a
coação por conformidade e a pressão por consenso crescem. (....) Em vez de debater e lutar pelos melhores
argumentos, entregamo-nos à compulsão por sistema”. (Sociedade
Paliativa. Petrópolis, RJ : Vozes,
2021, p. 10.) Esta
decadência é um perigo residual de um excesso de positividade numa cultura de
conformidade.
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