quinta-feira, 4 de março de 2021

DESVENDADO UM ENIGMA

 Meu querido amigo Marco Túlio De Rose publicou isso na sua TL no FB:

DESVENDADO UM ENIGMA

Um dos poema/prosa mais
belos de Mário Quintana
“A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer...”,
sempre teve seu que de enigmático.
Esses dias lendo a entrevista de Salman Rushdie para a FSP, na qual ele mencionava a diferença entre a ficção e a fake news, entendi o que o poeta disse.
S. Rushdie lembrava que enquanto a ficção (especialmente a boa) partia de uma narrativa irreal para tornar maior a compreensão do real, as fakes percorrem o caminho inverso: um fato da realidade é transformado em algo irreal que a deturpa.
Mário Quintana falava no seu prosa/poema da poesia, da ficção.
Comentei-lhe isso:
Boa correlação para a distinção fenomênica. Eu não diria deturpar, mas reduzir. Digo isso, porque deturpar remete à ideia de que só o outro tenha hábito de propagar fake news, quando isso se tornou um problema inerente à crescente rapidez na geração e disseminação de dados. Em termos míticos, a fake news é filha do boato com a tecnologia da informação. A mimese da fake news é que ela reforça e aprofunda nossas prévias convicções. Diria eu que a ficção dilata a visão de mundo, ela é seminal; a fake news a estreita, ela é viral.
Eu vou contar um causo. Um amigo meu compartilhou um interessante texto atribuído ao Papa Francisco. Informava ser o sermão da missa celebrada na igreja e dia citados. Eu li e imediatamente percebi que se tratava de algo falso. Porque um Papa só fala em homilia recorrendo à linguagem salvífica. Serei prosaico: em 4 parágrafos, pelo menos um irá mencionar o Pai, o Filho ou Espírito Santo. Ou Maria.... A linguagem do texto era laica. Primeiro, chequei o site do Vaticano. A homilia do dia era completamente diferente e ele nem tinha passado perto daquela igreja naquele dia. Mas, o texto era muito bem escrito. Então, deveria ter uma fonte rastreável. Fui atrás. Era do psiquiatra Augusto Cury. Moral da estória: alguém leu o texto, gostou tanto que quis mais gente lendo-o. E teve a ideia muito útil de atribuir ao Papa hermano-boa-praça, pois sabia que isso daria potência viral ao texto. Uma fake news foi produzida por uma pessoa de boa fé e compartilhada comigo por outra pessoa bem intencionada.



Sem prejuízo ao bem que essas pessoas se propunham com seus respectivos atos, foi espalhado um boato: a de que o Papa esteve num lugar em que não esteve, fazendo algo que não fez (celebrar missa ali) e ainda dizendo algo que não disse. Resta mostrar o estreitamento de uma visão de mundo: em contraste com o Papa Bento XVI, que só padres, teólogos e filósofos conseguiriam acompanhar seus discursos, o Papa Francisco quer reformar a Igreja, trazendo-a ao nível de nossos sensos de bem e entendimentos corretos. Para isso, naturalmente a linguagem só poderia ser laica.

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