sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Cooperativa sem degredados

UMA ESQUIZOANÁLISE DE SUA PROMESSA DE FELICIDADE


acesse:

http://baidc.revistas.deusto.es/article/view/1432/1846



segunda-feira, 23 de julho de 2018

Cultura da cooperação concorrencialmente sustentável e a ética do sucesso

https://periodicos.ufsm.br/rgc/article/view/30346

SUSTENTABILIDADE significa que as cooperativas de anestesiologistas objetivam o melhor retorno econômico a eles por suas respectivas atividades médicas realizadas com a prática de atos cooperativos. Esse retorno econômico só será verdadeiramente melhor se for socialmente justo para os usuários dos serviços médicos dos sistemas único de saúde e suplementar. 

Uma justiça historicamente possível pode ser alcançada quando há lealdade nas negociações e eficiência nas relações mantidas pelas cooperativas nos mercados locais de prestação de serviços de anestesiologia. Essa consciência imediata do bem do ato que é cooperativo nem sempre se realiza no cotidiano dos negócios das cooperativas, pois as escolhas ocorrem num emaranhado de símbolos, pensamentos,informações, discursos, desejos, circunstâncias. 

Por isso, é necessário o recurso a enunciados lógico-formais do dever-ser e as prescrições como referências para o discernimento da moral e do legal em sua historicidade (deontologia). Mas, o esclarecimento humano tem lá suas armadilhas – uma ilusão de que a observância meticulosa de certezas alcança toda justificação. Dito em outras palavras. O maior perigo para ética não é nem a mentira nem o erro: é a convicção. Por que? Nem a mentira nem o erro paralisam o pensamento. Mas a convicção, sim. Mais do mesmo só pode decair. Se a moral é normativa, a ética se mostra menos clara, mas melhor percebida nos dilemas que a normatividade instrumental ainda não resolveu inteiramente, nas situações excepcionais que extrapolam a normalidade..

É para esses dilemas e para exceções que uma ética orientada pela sustentabilidade se volta: é quando uma comunicação se mostra muito necessária sem ser uma entoação de uma cartilha surrada, um tatibitate irritante. 

terça-feira, 20 de março de 2018

Cultura da cooperação concorrencialmente sustentável



Tive a honra de participar de mais este projeto editorial, no qual coube-me a honrosa tarefa de abordar a promoção da cultura da cooperação concorrencialmente sustentável em cooperativas inseridas em contextos oligolísticos.

quinta-feira, 8 de março de 2018

Filhos, árvores e livros: o melhor de nós mesmos


Foi com prazer que participei desse projeto editorial lançado no mercado.  Coube-me a honrosa tarefa de redigir um texto de propedêutica principiológica e axiológica para o Direito Tributário.



Era madrugada quando o policial encontrou um bêbado engatinhando ao pé do poste.  Parou para observar a cena.  Depois de um tempo, um pouco por curiosidade, mais por dever de profissão, perguntou ao ébrio o que era aquilo ali.  “Estou procurando as minhas chaves. Perdi na alameda”.  Agora, sim, o guarda ficou interessado.  “Mas, e por que você está procurando elas aí, e não lá?”. E o bêbado: “Porque aqui é onde tem luz.”
Esta é uma anedota prenhe de humor judaico, este que costuma recorrer à ironia, à associação entre o Éden e o divã e a explorar o quão tênue é o limite entre o lógico e o absurdo[1].  Foi contado também por David Mamet, em Teatro.[2]  Trata-se de uma metáfora da condição humana.  Tanto o policial como o bêbado e a própria cena dizem de cada um de nós.  Num estado de sofrimento e angústia existencial, estamos na alameda escura.  Somos o bêbado que lá perde as chaves de casa – o Heimat, isto é, perdida uma unidade plena entre o sentir-se bem e o sentido de presença (talvez uma nostalgia do útero materno?) sem o qual sentimo-nos estrangeiros[3] da perspectiva de nossa própria visão de mundo (Weltschauung).  Mas, somos atraídos para a lucidez junto ao poste – a razão, porque simplesmente nos é insuportável viver vagando pela alameda escura, quando já estamos sem as chaves de casa.  Lá encontramos o policial - nossas certezas ordeiras -  nossa própria recusa em  procurar pelas chaves na escuridão da alameda – alguém que nós mesmos, ébrios, tomamos por íntegro e prestativo a nos ajudar com as chaves, para o qual portanto nos apressamos a dar explicações que julgamos convincentes e talvez sinceras.  David Mamet lembra que, sendo nós partícipes de uma democracia, não apenas nos importamos com as causas (quaisquer que sejam), mas nos apreciamos dizendo que nos importamos com essas causas.  Sobretudo por esta causa, valorizamos nosso direito de nos importar. 
O autor de Sucesso a qualquer preço postula que todo drama se enreda em alguma convicção do protagonista que vai sendo despedaçada pela trama.  Uma situação avaliada erroneamente ou visada de algum modo distorcido, o que o protagonista irá descobrir, ou já tendo descoberto desde o início, ele sente precisar encoberta até o fim.  Quando a mimese se esgota, o drama acaba[4]:
No bom drama descobrimos que a liberdade pode estar mais além e ser alcançada por meio do questionamento doloroso daquilo que antes era visto como inquestionável. (....)
É possível existir espetáculo politicamente correto, mas é impossível existir drama politicamente correto.  O próprio termo deveria causar repulsa em qualquer um que valorize a democracia e esta que é a mais democrática das artes, o teatro. 

Ora, então, o dramaturgo não está a dizer apenas do teatro, embora fosse esse o seu propósito no texto.  O texto diz também, ainda que indiretamente, do Direito.  Enquanto o teatro nos convida a voltar prazerosamente (porque acompanhando o enredamento do protagonista) para a alameda escura, o Direito nos convoca a examinar mais detidamente a relação entre o policial e o ébrio sob o poste, falando eles a respeito das chaves.  Mas, é muito importante ressaltar - e isso diz muito da Democracia: as chaves estão perdidas e não será junto ao poste que serão encontradas!


[1] Conferir SCLIAR, Moacyr; FINZI, Patricia; TOKER, Eliahy.  Humor Judaico.  4ª Ed.  São Paulo : Shalom/ Paulinas, 1990.
[2] Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 2014.  p. 35.
[3]          Ele disse-me: - Entraremos no fundo da questão.
            Sentou-se na cama e explicou-me que tinham andado a investigar a minha vida privada.  Tinham descoberto que a minha mãe morrera recentemente no asilo.  Procedera-se então a um inquérito em Marengo.  Os investigadores tinham sabido que eu “dera provas de insensibilidade” no dia do enterro.  – Veja se compreende – disse o advogado – custa-me um bocado perguntar-lhe isto.  Mas é muito importante.  E será um grande argumento para a acusação, se eu não conseguir dar resposta.  – Queria que eu o ajudasse.  Perguntou-me se eu, nesse dia, tinha tido pena da minha mãe.  Esta pergunta me espantou e parecia-me que não era capaz a fazer a alguém. Não obstante, respondi que perdera um pouco o hábito de me interrogar a mim mesmo e que era difícil dar-lhe uma resposta.  É claro que gostava da minha mãe, mas isso não queria dizer nada.  Todos os seres saudáveis tinham, em certas ocasiões, desejado, mais ou menos, a morte das pessoas que amavam.  Aqui, o advogado cortou-me a palavra e mostrou-se muito agitado.  Obrigou-me a prometer que não diria isto na audiência, nem ao juiz de instrução (....)  Fiz-lhe notar que essa história não tinha nenhuma relação com o meu caso, mas ele respondeu-me que se via bem que eu não conhecia a justiça de perto.  (CAMUS, Albert.  O estrangeiro.  Trad. Antônio Quadros.  São Paulo : Abril, 1972.  Pp. 85-86)
[4] MAMET.  Ob cit. p. 81

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Pantera Negra, uma alegoria no melhor ano da Paraíso do Tuiutí

Está em cartaz o mais recente lançamento cinematográfico do universo Marvel:  Pantera Negra.  Por inovação, agrega valor ao enfrentar francamente o desafio de se servir de um argumento politicamente sensível a críticas severas por organizações civis que se dispõem a um exame minucioso de produtos deste jaez, eis que advém de um empreendimento global e de capital intensivo, mas particularmente sensível a impactos negativos de reputação no seu retorno financeiro.

Bem, o filme foi lançado e ninguém logrou repercussão com um discurso que expressasse ofensivo o tratamento dado pelo produto à identidade racial enfocada.  Neste sentido, a obra já é socialmente bem sucedida e mostra-se assim hábil a uma abordagem sobre o  imaginário social da ofensa.   O que será feito em vôo de passarinho.



O seu cenário principal é um fantástico reino no coração da África.  Seu enredo se desenrola em conturbada sucessão dinástica que impacta o destino de uma sociedade híbrida entre a tradição tribal e o manejo intensificado de capital e tecnologia.    Trata-se de uma alegoria dos EUA, referente às suas capacidades produtivas e liderança tecnológica (particularmente manifestas na indústria de armamentos)  e seus dilemas, tanto a sócio-racial como de relações internacionais.  O dilema sócio-racial é presente entre escolhas políticas, uma marcada pela manipulação de conflitos, oposta à outra, cooperativa e conciliatória.   Quanto ao relacionamento internacional,  o dilema é apresentado entre uma postura de preservação da identidade nacional e fechamento de  fronteiras (muros) e outra de integração global (pontes).   

Para que a alegoria restasse inteligível, o argumento recorreu a um jogo entre identidade e diferença a partir da relação estabelecida entre singularidade e universalidade num horizonte de segundo plano.  Neste horizonte secundário, a estética delineia a especificidade e a lógica tecno-científica, a universalidade.  Este é o horizonte de todo universo Marvel.

A partir da compreensão da relação hoje existente entre a estetização do mundo pela consumação por dispositivos e uso hiperbólico de técnicas e procedimentos, pode-se perceber o excesso performático que impacta a percepção atual da possibilidade como sentido de risco e o perigo como sentido do devir para o Estado, enquanto o discurso teorético insiste em tratar o bem-estar como positivação da dignidade humana e como condição definidora dos bens jurídicos a serem protegidos antecipadamente à lesão.   Em outras palavras, resta saber se as teorizações atuais acerca da relação entre Estado e sociedade têm sido hábeis, ou não, em guardar a prudente distinção entre os bens éticos e estéticos. 

Aparentemente, essa distinção é fácil, eis que a estética se voltou até a modernidade matutina, ao ideal de beleza.  Enquanto a ética, ao que é bom.  Mas, no limiar entre o bom e o belo está o agradável, onde emerge o problema fundamental do bem-estar.  Questão sobre a qual até os gregos do tempo de Platão já se debruçavam.  Os heróis da Marvel chamam para si uma vivência desagradável a fim de que todos os demais possam viver em bem-estar.  O desagradável aí já é uma expressão laica da ética cristã em face à narrativa trágica pensada pelos gregos antigos.  Mas, há algo de diferente na modernidade vespertina:  na desdefinição ágil dos indivíduos pelas individualizações sempre transitórias, tal como proporcionadas pela cumulação dispositiva da consumação performática, há o vazamento dos valores positivados na moral e no Direito: a estética não se deixa limitar ao belo e passa a explorar sobremaneira as percepções sensoriais nas significações possíveis com o uso de linguagens.  O que acontecia somente em deslocamentos excepcionais em relação ao cotidiano, e portanto, em espaços marginais, passa a ser central no manejo procedimental dos conceitos.    Pelos vazamentos conceituais dos valores, a estética se tornou colonizadora da moral e  Direito contemporâneos.