quinta-feira, 26 de maio de 2016

Por que o dia de Corpus Christi é feriado?

Porque, em linguagem metafisica, o corpo eucarístico remete ao paradoxo entre pessoa e mundo.  O corpo encarnado evidencia que nada nos separa do mundo, mas paradoxalmente entre pessoa e mundo há um abismo:  animais são mundo, mas só pessoas não se confundem com o mundo - pessoas têm potência para se perceberem destacadas do mundo e isso acontece ao atribuírem um sentido textual para si mesmas, para outrem e para as coisas além da pura e simples vivência - a sobrevivência e a sucumbência  como sentidos de transitoriedade: conhecer, lembrar e imaginar como saber viver e morrer.  O corpo neste texto é expressão de uma ambiguidade em que ser humano é nebuloso. Tem (e não tem) corpo; é (e não é) corpo. Nem a consciência é sempre ser; nem o corpo é sempre morada do ser. Na percepção do comportamento humano com a abertura a plúrimos temas entre ser e ter corpo, este emerge na realização do real. 

Qualquer narrativa dramática encontra aqui o seu sentido originário e ela culmina numa perplexidade: a justiça perfeita não se mostra sem que antes se mostre a angústia extrema, que se expressa num brado de abandono. A justiça perfeita assume para si todo o sofrimento, toda a necessidade de ajuda da humanidade inteira.    Assim, não é que haja nada além do Direito; há alguém cujo sofrimento é motor pela empatia a atrair à justiça o Direito por reflexão. 

Se para o pensamento, tudo deixa vestígios do Nada, o acontecimento ético é o aparecimento do Outro que nada deixa para o Nada ao ocupar toda a vazies existencial.  O vestígio então é anúncio de alteridade.  Só na ausência impossível de si, reconhece-se totalmente o Outro, o que torna carne a visão plena do invisível.  


Nenhum comentário:

Postar um comentário