quinta-feira, 26 de maio de 2016

Por que o dia de Corpus Christi é feriado?

Porque, em linguagem metafisica, o corpo eucarístico remete ao paradoxo entre pessoa e mundo.  O corpo encarnado evidencia que nada nos separa do mundo, mas paradoxalmente entre pessoa e mundo há um abismo:  animais são mundo, mas só pessoas não se confundem com o mundo - pessoas têm potência para se perceberem destacadas do mundo e isso acontece ao atribuírem um sentido textual para si mesmas, para outrem e para as coisas além da pura e simples vivência - a sobrevivência e a sucumbência  como sentidos de transitoriedade: conhecer, lembrar e imaginar como saber viver e morrer.  O corpo neste texto é expressão de uma ambiguidade em que ser humano é nebuloso. Tem (e não tem) corpo; é (e não é) corpo. Nem a consciência é sempre ser; nem o corpo é sempre morada do ser. Na percepção do comportamento humano com a abertura a plúrimos temas entre ser e ter corpo, este emerge na realização do real. 

Qualquer narrativa dramática encontra aqui o seu sentido originário e ela culmina numa perplexidade: a justiça perfeita não se mostra sem que antes se mostre a angústia extrema, que se expressa num brado de abandono. A justiça perfeita assume para si todo o sofrimento, toda a necessidade de ajuda da humanidade inteira.    Assim, não é que haja nada além do Direito; há alguém cujo sofrimento é motor pela empatia a atrair à justiça o Direito por reflexão. 

Se para o pensamento, tudo deixa vestígios do Nada, o acontecimento ético é o aparecimento do Outro que nada deixa para o Nada ao ocupar toda a vazies existencial.  O vestígio então é anúncio de alteridade.  Só na ausência impossível de si, reconhece-se totalmente o Outro, o que torna carne a visão plena do invisível.  


segunda-feira, 9 de maio de 2016

Cooperativas e Madalenas

Abaixo, link para a Revista Brasileira de Educação e Cultura, na qual, em seu número XII, de jul-dez 2015, publiquei o artigo Cooperativas e Madalenas.


http://periodicos.cesg.edu.br/index.php/educacaoecultura/article/view/220/309





A constituição da sociedade cooperativa como objeto só pode aparecer nas relações de identidade e diferença; texto e contexto; percepção e comportamento. O que se põe em questão é tanto a autossuficiência do dado, quanto a prioridade lógica e epistemológica do fatual sobre o possível. O que se postula é uma atividade constitutiva operante desde sempre. O comportamento de uma coisa nos confrontos com outras coisas que constituem seu mundo circundante precisa ser pensado também em relação imediata aos corpos que percebem as relações entre as coisas. E os confrontos entre as coisas percebidas e os corpos não são inteiramente explicitadas por efeitos de ações causais. Sem o primado da consideração sincrônica, qualquer análise diacrônica não encontra garantia para seu rigor. Este é um sentido diacrítico das madalenas de Marcel Proust com relação à literatura jurídica e econômica que abordam as cooperativas. Apresentando a diferença nos julgamentos ocorridos num intervalo de 10 anos do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal sobre a mesma matéria de Direito Tributário aplicada às sociedades cooperativas, o artigo recorre aos conceitos de empatia proposto por Max Scheler, mimese na dramaturgia clássica e o tu em Martin Buber. Mesmo reconhecendo que as cooperativas sejam um meio sustentável para a felicidade, a ética utilitarista presente nos argumentos usuais a esse respeito é limitada para uma resposta fenomenológica ao problema implícito de identidade nos julgamentos ocorridos nos Tribunais.


terça-feira, 3 de maio de 2016

V Caminhada com Maria rumo ao Redentor


Em celebração do tempo pascal e com o início do mês dedicado à Maria, realizamos com a Congregação Mariana do Hospital de Curupaiti, presidida por Ana Elizabeth, a     V Caminhada com Maria rumo ao Redentor.

Recordando os 40 dias nos quais Deus andou entre nós em corpo glorificado, iniciamos essa romaria na Igreja da Ressurreição destinada à capela de Nossa Senhora Aparecida no interior da imagem do Cristo Redentor do Santuário do Corcovado.  Recordando também os discípulos de Emaús, encontramo-nos pelo caminho com o Salvador do mundo em corpo eucarístico no Arpoador, Ipanema, Fonte da Saudade, Botafogo, Laranjeiras, Cosme Velho e Corcovado.  Pelo caminho, contemplamos em oração os mistérios gozosos, luminosos, dolorosos e gloriosos conforme a manifestação de devoção mariana mais tradicional: o terço.  

A presença histórica do corpo glorificado de Deus entre nós, tal como acontece com o corpo eucarístico, manifesta a memória do sacrifício perfeito de Deus por amor aos homens.  E com ela podemos reconstituir o tempo, que deixa de ser um passado sempre superado em direção a um futuro projetado.  O tempo, desde o Cordeiro, ao contrário, nos anuncia que o mal já não pode mais nos destruir, pois o amor tudo vence; vence até a morte. E que toda esperança por dias melhores já é a história humana na companhia do Espírito Santo para a compreensão plena do alcance de significados desse acontecimento passado e desde então celebrado até o fim do tempo em memória do Cristo.