sábado, 1 de novembro de 2014

A Decadência de Drácula

Decadência não necessariamente diz de corrupção.  Diz mais do tempo para que mais do mesmo pensamento exponha os limites de sua realização.  Desse tempo de decadência para descoberta dos limites, a degeneração para o pensamento de uma época.

A decadência de um mito diz tanto de sua passagem quanto de sua permanência.  Gary Shore se propôs a recontar mais uma vez a estória de Drácula. Nada menos do que uma remissão ao Sétimo Selo - película que entra fácil numa lista de filmes inesquecíveis.  No Drácula, como no xadrez, há um diálogo entre o guerreiro e a morte em que ela nunca perde, mas ao guerreiro jogar, ganha a imortalidade num trânsito para o imaginário. 



O filme de Gary Shore mostra a decadência do mito desde o livro de Bram Stoker.  Pode-se dizer que o cruzado moderno não se eterniza por Deus, pela pátria ou alguma utopia no jogo com a morte, mas por amor.  E na decadência do amor, no trânsito das banalidades cartoriais que se diz liberdade civil, então Drácula desloca o seu foco para o que era impensável no romance original: a sacralização do filho em idade escolar.  Aí, o xadrez radical entre o guerreiro e a morte aparece normalizado na disposição de vôo à jugular de outrem.  Que o digam os professores depois de mais uma reunião de pais.  Mais ou menos o que acontece no mês de aniversário dos Supermercados Guanabara.


E talvez Dracula tenha escolhido então uma maneira eloquente de contar a  sua degeneração:  na ética e na estética, ele se tornou um mutante X Men!

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