Esta semana, escrevi no post anterior, que fé é para criança e comentei que a causa final do querigma é assunto para quem gosta de
teologia.
Mas, quiçá seja possível
dizer dessa razão no contexto de hoje
para quem nunca se dedicou ao assunto.
Recordando, kerissein é o verbo grego utilizado pelos primeiros cristãos para se
referirem à ação apostólica de primeiro anúncio, que não era somente aquele
para a abordagem dos pagãos e judeus da época, mas também do essencial em ser
cristão: crer verdadeiras a morte, ressurreição, ascensão
e volta (prometida) do Verbo encarnado.
O Verbo é uma expressão que diz do mistério da Santíssima
Trindade. O dogma cristão afirma que a
Santíssima Trindade é o Pai, o Filho
e o Espírito Santo. Deus se revela (Dei Verbum) em 3 Pessoas.
Qual sentido contextual para o hoje? Os parênteses na abordagem. Se a Ss. Trindade sempre é (composta de) Pai,
Filho e Espírito, é (relação entre) Pai, Filho e Espírito no contexto de hoje. A tradição importa em dizer quem é cada uma dessas Pessoas. A teologia contemporânea aprofunda o estudo
de significados nas relações entre essas Pessoas.
Uma conclusão muito interessante e imediata: Se Deus é amor, é comunidade, eis que não é solidão
- aniquilação de alteridade.
O querigma no contexto de
hoje então não só diz do que tenho a
dizer ao outro, mas sobretudo do que diz do outro para mim para que eu
tenha algo de amoroso para dizer a ele.
É o que o Papa Francisco veio dizer como Luz da Fé: "A experiência do amor diz-nos que é possível termos uma visão
comum precisamente no amor. Neste, aprendemos a ver a realidade com os
olhos do outro e isto, longe de nos empobrecer, enriquece nosso
olhar".
O querigma se apresenta hoje como sempre:
um desafio à compreensão humana, mas evidente na sua afetividade. Hoje, nossos receios de cerceamento da
liberdade e da perda da autonomia do sujeito por imposições intransigentes têm
nos obrigado a exilar a verdade nos fatos e cálculos e a encarcerar o amor no
interior dos nossos afetos. O que até é capaz de confortar o indivíduo, mas faz
o amor difícil de ser proposto como realização comum.
Então, o querigma também é o que o Papa Francisco
veio dizer como Alegria do Evangelho:
"Confessar um Pai que ama
infinitamente cada ser humano implica descobrir que 'assim lhe confere uma
dignidade infinita'. Confessar que o
Filho de Deus assumiu a nossa carne
humana significa que cada pessoa foi elevada até ao próprio coração de Deus. Confessar que Jesus deu o seu sangue por nós
impede-nos de ter qualquer dúvida acerca do amor sem limites que enobrece todo
ser humano. A sua redenção tem um
sentido social, porque 'Deus, em Cristo, não redime somente a pessoa
individual, mas também as relações sociais entre os homens'. Confessar que o Espírito Santo atua em todos implica
reconhecer que Ele procura permear toda situação humana e todos os vínculos
sociais: 'O Espírito Santo possui uma inventiva infinita, própria da mente
divina, que sabe prover a desfazer os nós das vicissitudes humanas mais
complexas e impenetráveis'. A
evangelização procura colaborar também com esta ação libertadora do
Espírito. O próprio mistério da Trindade
nos recorda de que somos criados à imagem desta comunhão divina, pelo que não
podemos realizar-nos nem salvar-nos sozinhos.
A partir do coração do Evangelho, reconhecemos a conexão íntima que existe entre
evangelização e promoção humana, que se deve necessariamente exprimir e
desenvolver em toda a ação evangelizadora.
A aceitação do primeiro anúncio, que convida a deixar-se amar por Deus e
a amá-Lo com o amor que Ele mesmo nos comunica, provoca na vida da pessoa e nas
suas ações uma primeira e fundamental reação: desejar, buscar e cuidar do bem
dos outros."
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