Anton Tchekhóv é o mais celebrado dramaturgo do Teatro de Arte de Moscou para o qual escreveu 4 peças impactantes. Não é acaso, ele também se notabilizou por servir-se de um gênero literário até então considerado menor - o conto - como suporte para textos inesquecíveis. Pois, Tchekhóv nunca deixou de exercer medicina. Dizia que ela era a sua esposa; a literatura de ficção, sua amante. Longe de constituírem atmosferas rivais por onde ele transitava, elas eram um mesmo ambiente vivido. A esposa era amiga da amante. O realismo dos textos de Tchekhóv era manejado em tal modo que o leitor é convocado a subjetivar, sem o quê o sentido do texto não se lhe apresenta.
O seu longo texto intitulado Ilha de Sacalina, uma mescla de relatório de pesquisa de campo e ensaio jornalístico traz características que bem indicam o estilo do autor. E, não por acaso, também antecipa em décadas implicações epistemológicas que viriam a ser postuladas pela etnografia entre observação e narração; entre drama e anamnese. Ilha de Sacalina se constitui como um diário de bordo de uma viagem-intervenção. Se apresentando no campo como pesquisador, mas escrevendo como jornalista, o texto é narrado em primeira pessoa. O recurso linguístico tem um enorme significado. Sem em nenhum momento deixar de realizar um relato metódico, as descrições tampouco recalcam as impressões no acontecimento que é a observação. Tchekhóv tem em mente que trata de duas vivências integradas: a que é descrita (1) e a do descrever (2). É um estranho íntimo.
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