Não quero entrar na especulação de como pôde Cristo ter se
relacionado com o Diabo enquanto esteve no deserto, ou se ele ainda se
encontrou com alguém mais por ali, Deus sabe o que andaram fazendo. Prefiro encarar outra especulação zombeteira: a credulidade de José, quanto ao fato de ter a
virginal Maria engravidado. Piada
pronta. Incluí-la numa sátira é nota
zero em criatividade.
A virgindade de Maria serve fácil como uma ilustração de como
o credo cristão é obscuro, ficção ou irracional. Nos dias de hoje, talvez seja mais fácil acreditar
num fundo de verdade na sátira com a piada pronta, do que no fundo do
dogma.
Insisto neste fundo mais difícil – a verdade no credo. O Filho nasceu de uma Virgem. Disso, uma inferência: na família, o Filho é de sangue
desconhecido. O
dogma postula que Maria seja a nova Eva.
Entre Eva e Maria, a condição tão universal como abissal que, numa
mulher, é reveladora. Entre Eva e Maria
cabe a humanidade inteira.
Cabe uma jovem virgem de uma terra conflagrada na qual esteja acontecendo uma limpeza étnica e teve a infelicidade extrema de ser capturada viva por uma milícia da etnia rival. Ela foi submetida por dias, semanas a todo tipo de sevícias por todos daquela tropa brutal e brutalizada. E, por alguma intervenção providencial, conseguiu sobreviver ao seu martírio. E então... se descobriu grávida! E se decidiu por esse embrião; apesar de tudo, ela quis conservá-lo em seu ventre! E sofreu mais, as dores do parto. E amamentou essa criança. Cuidou dela como filho que é; amou-a como filho que é. Um amor mais que gratuito. Um amor sublime, porque contra toda chance.
Imagina o dia em que
este filho descobre a verdade sobre a sua paternidade desconhecida. Mais, imagina
sua mãe no momento em que fica sabendo que o filho sabe: “Meu Deus! Meu filho!
Virgem Santa, acode aqui!” Para esta mulher, seu filho
vivifica a verdade que está no fundo do dogma da virgindade de Maria: doravante, todas as gerações lhe dirão
bendita.
Você pode me perguntar onde está Deus, quando alguém sofre
tanto assim. Bem, Jó também se fazia esta
pergunta durante todo o seu tormento. E a resposta é: estava ali silente, sofrendo a dor de Seu Filho
amado. Cada vez que alguém sofre
assim, Deus ergue-se ao alto. Mas, não em majestade. Ergue-se no
madeiro. Está na cruz outra vez; toda vez. E Maria ainda será lembrada como bem
aventurada.
Feliz
Natal!
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