segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Uma carta do pai



Bê, meu filho:

Lembra da estória de Pí?  Sim, daquele filme em que o garoto indiano perdeu os pais no navio que afundou.  Aí, ele dividiu um barco com um tigre... lembra?


É assim.  Às vezes, isso acontece.  A gente perde muito na vida e nem é porque fizemos alguma coisa errada.  Nem precisa acontecer um acidente.  Ou uma guerra.  Ou um apocalipse zumbi.  Pode ser uma grande injustiça.  E a gente se sente esmagado, triste, abandonado, revoltado.  E se pergunta “por que?”.

De tudo que te dei até hoje, as pizzas e os sushis, escola, meu carinho e meus beijos... de tudo mesmo, o que é mais importante?

O mais importante é uma estória que eu faço questão que te contem.  A mesma estória que ouvi de quem viveu antes de mim e sua mãe. E que agora é você quem a escuta.  A estória de Deus, que morreu por amor a todos nós.  E que esse amor é bom, belo e verdadeiro, porque só o amor tudo vence.  Vence a própria morte e a injustiça. Esta é a graça da estória: só quando tudo se perde, descobrimos que nem tudo se perdeu.  O mais bonito, o melhor e o mais verdadeiro de tudo, ficou.  Ficou bem juntinho de você. 

Pois é, garoto.  Tudo isso num pedacinho de pão molhado no vinho. Parece até mentira.  Deus tem algum senso de humor, pelo visto.

Agora, é sério.  Eu posso morrer.  Todo mundo morre um dia.  E mesmo antes de morrer, posso perder minha saúde, meu juízo, meu dinheiro...  Isso pode acontecer com qualquer um.  Mas, essa estória, que agora também será sua, ninguém pode mais tirar de você.

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