Qual é a
verdade? Não se lha conhece senão em função dos fatos e do
desempenho. Eis o argumento de mais um filme de pancadaria estrelado por
Dwayne The Rock Johnson. Mas, a produção caprichada ofereceu uma
abordagem ao mito que, sem qualquer concessão ao pensamento grego originário,
não o violenta demais. Ao contrário, o mantém afetivamente íntegro.
E torna-se mais interessante do que mais um filme de pancadaria.
O roteiro, da
qual consta uma assinatura grega (Ryan Condal, Evan Spiliotopoulos), se enreda
entre verdade e revelação; entre os mitos e os fatos, cuja diferença não está
entre falsidades e verdades, mas entre perspectivas e funções. Então, o
semi-deus é um ser humano extraordinário: um mercenário honesto e general
brilhante. Mas, dotado de uma força titânica, deixa em aberto se não
seria uma verdade misteriosa a sua filiação divina. Ainda que sob uma
leitura de predeterminação própria da cultura americana, impressa na confiança
do slogan: Yes, you can.
A maior
violência ao mito de Hércules é paradoxalmente histórica. Mito arcaico,
Hércules, no filme, adota estratégia militar que só foi pensável depois de
Aristóteles. De certo modo, pode-se dizer que o filme condensa todo
o percurso histórico em que a técnica se afasta do poético e se aproxima do
lógico, na culminância da funcionalidade.
Na superposição
de funções, o filme está endereçado para quem quer ver mais um filme do
incansável The Rock distribuindo sopapos em takes coreografados e
plásticos. Mas, é notável que um filme movido a coreografia e efeitos
digitais, tão explicitamente também se proponha à discussão de um tema cheio de
sutilezas e armadilhas como é a verdade.
Enfim, convide
com coragem seu filho ou sobrinho pré-adolescente ou aborrecente para um
programa pipoca que o filme deve acabar antes que a sua paciência se
acabe.
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