terça-feira, 14 de outubro de 2014

Hércules


Qual é a verdade?  Não se lha conhece senão em função dos fatos e do desempenho.  Eis o argumento de mais um filme de pancadaria estrelado por Dwayne The Rock Johnson.  Mas, a produção caprichada ofereceu  uma abordagem ao mito que, sem qualquer concessão ao pensamento grego originário, não o violenta demais.  Ao contrário, o mantém afetivamente íntegro.  E torna-se mais interessante do que mais um filme de pancadaria.

O roteiro, da qual consta uma assinatura grega (Ryan Condal, Evan Spiliotopoulos), se enreda entre verdade e revelação; entre os mitos e os fatos, cuja diferença não está entre falsidades e verdades, mas entre perspectivas e funções.  Então, o semi-deus é um ser humano extraordinário: um mercenário honesto e general brilhante.  Mas, dotado de uma força titânica, deixa em aberto se não seria uma verdade misteriosa a sua filiação divina.  Ainda que sob uma leitura de predeterminação própria da cultura americana, impressa na confiança do slogan: Yes, you can.

A maior violência ao mito de Hércules é paradoxalmente histórica.  Mito arcaico, Hércules, no filme, adota estratégia militar que só foi pensável depois de Aristóteles.   De certo modo, pode-se dizer que o filme condensa todo o percurso histórico em que a técnica se afasta do poético e se aproxima do lógico, na culminância da funcionalidade.

Na superposição de funções, o filme está endereçado para quem quer ver mais um filme do incansável The Rock distribuindo sopapos em takes coreografados e plásticos.  Mas, é notável que um filme movido a coreografia e efeitos digitais, tão explicitamente também se proponha à discussão de um tema cheio de sutilezas e armadilhas como é a verdade.

Enfim, convide com coragem seu filho ou sobrinho pré-adolescente ou aborrecente para um programa pipoca que o  filme deve acabar antes que a sua paciência se acabe.

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