segunda-feira, 2 de junho de 2014

Carta de agradecimento à professora de meu filho



Prof. Carmem, bom dia!

Sou pai do Bernardo.  E quero dedicar-lhe algumas palavras.

Quando Platão figurou Sócrates tomando veneno na democracia, deu um sentido:  a idiotice é democrática.   Em que pese esse problema, a democracia se eternizou.  É porque a sabedoria pode sobreviver na democracia no seu fundamento de coexistência das diferenças.

Ser humano é ser histórico.   Prefiro pensar nisso em ser situado.  Em sendo situados, somos especialistas em nossas próprias razões.  Há ainda um dispositivo psíquico, a autocomplacência.  Tendemos a criticar mais os outros do que a nós mesmos.  Não somos tão aptos em compreender as razões dos outros, como em privilegiar as nossas.  É este um problema ético fundamental. O mal se insinua por entre quaisquer razões. 

Ser pai de vários filhos e assim ter intimidade com pessoas diferentes me ensinou muita coisa.  Tenho uma filha com grande aptidão para a aprendizagem escolar.  De mãos dadas com essa aptidão,   está sua aguda ciência de suas próprias razões.  O Bernardo não tem essa mesma aptidão dela, mas se notabiliza entre os filhos pela sua generosidade.  Na minha relação com a minha filha, ela ou se esquece dos outros ou deseja exclusividade.  Mas, na minha relação com o Bernardo, ele sempre busca incluir alguém mais.  Prof. Carmem, então eu lhe pergunto: qual criança tem uma consciência mais valiosa?  É uma pergunta difícil e as situações encontradas são muito importantes para uma resposta adequada.

Considero o CPII uma escola adequada para o Bernardo.  É uma criança com carisma para vivenciar um ambiente de ampla diversidade.  Por outro lado, tem uma clara necessidade em não ter interrompido o seu processo pedagógico.  Estou enganado?

Bem, quero menos questionar as razões pelas quais professores do CPII insistem tanto em viver aquele clima tão bem retratado em Hair,  nas inesquecíveis imagens de Milos Forman, com a multidão correndo em direção à Casa Branca com faixas, cartazes e cantando Deixe a luz do sol entrar.

Quero mais lembrar o dilema que é também mostrado no musical, quando uma mãe com uma criança procura um daqueles, pai de seu filho, e lhe pede a volta para  casa.  Ele as rejeita e ela, ressentida, canta:

How can people have no feelings?
How can they ignore their friends?
Easy to be proud.
Easy to say no.
And especially people
Who care about strangers
Who care about evil
And social injustice
Do you only
Care about the bleeding crowd?
How about a needing friend?
I need a friend.
 Enfim, Profa. Carmem, o que quero é manifestar minha profunda gratidão por ter pensado primeiro em meu filho diante do dilema vivido no CPII.  Por, diante do dilema, como professora, preferir devotar-se à sua missão como amizade por ele.  Saiba que não passa um dia das últimas semanas sem que lembre da grandeza de seu gesto.


Muito obrigado!

4 comentários:

  1. Apesar de meu filho já estar no ensino médio, faço minhas as palavras dele!!!

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  2. Estou verdadeiramente emocionada,obrigada por me remeter à um outro contexto mais humano e menos ideológico, Sou a mãe da Julia e sinto na alma não poder ter a quem agradecer nominalmente neste momento . Então agradeço a professora Carmem, e a todos os professores anônimos que mesmo na invisibilidade estão ocupando o lugar que escolheram estar em algum momento de suas vidas

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    1. Estou verdadeiramente emocionada,obrigada por me remeter à um outro contexto mais humano e menos ideológico, Sou a mãe da Julia e sinto na alma não poder ter a quem agradecer nominalmente neste momento . Então agradeço a professora Carmem, e a todos os professores anônimos que mesmo na invisibilidade estão ocupando o lugar que escolheram estar em algum momento de suas vidas

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