sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

O Advento


Não quero entrar na especulação de como pôde Cristo ter se relacionado com o Diabo enquanto esteve no deserto, ou se ele ainda se encontrou com alguém mais por ali, Deus sabe o que andaram fazendo.  Prefiro encarar outra especulação zombeteira:  a credulidade de José, quanto ao fato de ter a virginal Maria engravidado.  Piada pronta.  Incluí-la numa sátira é nota zero em criatividade. 

A virgindade de Maria serve fácil como uma ilustração de como o credo cristão é obscuro, ficção ou irracional.  Nos dias de hoje, talvez seja mais fácil acreditar num fundo de verdade na sátira com a piada pronta, do que no fundo do dogma. 

Insisto neste fundo mais difícil – a verdade no credo.  O Filho nasceu de uma Virgem.  Disso, uma inferência:  na família, o Filho é de sangue desconhecido.     O dogma postula que Maria seja a nova Eva.  Entre Eva e Maria, a condição tão universal como abissal que, numa mulher, é reveladora.  Entre Eva e Maria cabe a humanidade inteira.

Cabe uma jovem virgem de uma terra conflagrada na qual esteja acontecendo uma limpeza étnica e teve a infelicidade extrema de ser capturada viva por uma milícia da etnia rival.  Ela foi submetida por dias, semanas a todo tipo de sevícias por todos daquela tropa brutal e brutalizada. E, por alguma intervenção providencial, conseguiu sobreviver ao seu martírio.  E então... se descobriu grávida!  E se decidiu por esse embrião; apesar de tudo, ela quis conservá-lo em seu ventre!  E sofreu mais, as dores do parto.  E amamentou essa criança.  Cuidou dela como filho que é; amou-a como filho que é.  Um amor mais que gratuito.  Um amor sublime, porque contra toda chance.

 Imagina o dia em que este filho descobre a verdade sobre a sua paternidade desconhecida.  Mais, imagina  sua mãe no momento em que fica sabendo que o filho sabe:  Meu Deus!  Meu filho!  Virgem Santa, acode aqui!  Para esta mulher, seu filho vivifica a verdade que está no fundo do dogma da virgindade de Maria:  doravante, todas as gerações lhe dirão bendita. 

Você pode me perguntar onde está Deus, quando alguém sofre tanto assim.  Bem, Jó também se fazia esta pergunta durante todo o seu tormento.  E a resposta é:  estava ali silente, sofrendo a dor de Seu Filho amado.  Cada vez que alguém sofre assim,  Deus ergue-se ao alto.  Mas, não em majestade. Ergue-se no madeiro.  Está na cruz outra vez; toda vez.    E Maria ainda será lembrada como bem aventurada.




Feliz Natal!