terça-feira, 3 de novembro de 2015

Casamento e Familia nos Dias de Sempre

A XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que ocorreu no Vaticano, acabou em 25 de outubro.  Sua pauta foi A Vocação da Família na Igreja e no Mundo Contemporâneo.  Durante a Santa Missa para seu encerramento, o Papa Francisco falou de duas tentações:


(1)  uma espiritualidade da miragem - "podemos caminhar através dos desertos da humanidade não vendo aquilo que realmente existe, mas o que nós gostaríamos de ver; somos capazes de construir visões do mundo, mas (....) [aceitamos] uma fé que não sabe radicar-se na vida das pessoas, permanece árida e, em vez de oásis, cria outros desertos".

(2)  uma fé de tabela - "podemos caminhar com o povo de Deus, mas temos já a nossa tabela de marcha, onde tudo está previsto: sabemos aonde ir e quanto tempo gastar; todos devem respeitar os nossos ritmos e qualquer inconveniente perturba-nos.  Corremos o risco de (....) [perdermos] a paciência (...). Jesus, pelo contrário, quer incluir, sobretudo quem está relegado para a margem e grita por Ele. Estes, (....), têm fé, porque saber-se necessitado de salvação é a melhor maneira para encontrar Jesus".


Com a Sagrada Família, aprendemos a correspondência permanente entre a inventiva do Espírito Santo e o acolhimento hospitalar que torna cada família esperança nossa de futuro para a humanidade.  Mesmo que brutos assaltem as nossas casas.  Que a madrugada amanheça afogada em terror.

Diálogo e contexto, diz o Papa Francisco.  Em meu contexto, a partir de soluções pragmáticas, casamento e família podem muito bem ser nomes dados a diversas relações afetivas e domésticas, mas com iguais efeitos jurídicos e sociais.  Se alguém me diz casado ou parte dessa ou daquela família  e assim deve ser tratado por normas de convívio civilizado, rezo para que encontre nesse seu "sim" o sentido mais nobre. Mas, também será o mais servil. Digo isso consciente de que expressões como "autoestima" e "busca da felicidade" podem ocultar vazies, impiedade, vaidade e egoísmo.  Males que magoam e condenam qualquer um à solidão em meio à multidão.

Se casamento ou a maternidade/paternidade existem para minha felicidade, é porque alguém escolheu me fazer feliz.  Não por amizade.  Não por cidadania. Família só é esperança, e não um arranjo, porque alguém nunca desistiu de mim. Morreu assim.  Não foi porque se sentisse preparado para isso, nem porque gostasse disso.  Simplesmente, porque era quem foi, fez de mim, mais do que eu mesmo, quem sou.  

O fundamento ético da família não se manifesta num afeto duradouro ou em direitos reconhecidos ou em fatos científicos.  Ele se manifesta no embrião que ninguém pediu.  Aconteceu.  Vingou em cada progrom.  E, por isso mesmo, como ele é, está destinado a vencer a pior das desgraças.   É o angustiante paradoxo que se manifesta em toda a sua grandeza na verdade heroica da fé.