quarta-feira, 6 de agosto de 2014

A presidente Dilma no templo de Salomão

Um arquiteto amigo meu mexe profissionalmente com arqueologia. Ele me comentou que o templo da Universal inspirado em Salomão tem um estilo arquitetônico bem mais recente: remete ao tempo de Herodes. O que é irônico. 

A IURD opera com uma expressão de fé que se notabiliza por seu caráter sincrético, enquanto se nega como tal: tem sessão de descarrego, mas abomina a umbanda; oferece aos fiéis objetos com significados religiosos, como garrafinhas com água do rio Jordão, pedras do monte das Oliveiras, mas renega a imagética católica. 

A IURD é uma usina de reciclagem do imaginário religioso brasileiro. Agora, está se aparelhando com referências judaicas. É uma síntese improvável de fundamentalismo e niilismo, uma religião processada e plástica. Ultrapassou o pragmatismo que impregna a teologia da prosperidade, porque se sobrecarrega com simbologia e de apelo sentimental. Mas, se distancia da harmonia gótica e da exuberância barroca, porque não expõe beleza, quando tudo está a serviço de objetivos práticos. 

Enfim, a IURD é para ser levada a sério, ainda que tenha muito da esculhambação cultural tão brasileira: a tropicália cristã não é a ecologia de Marina, mas sim o Edir Macedo se deixando fotografar travestido de rabino. Uma recriação evangélica do Chacrinha, uma versão masculina da Baby do Brasil. Um Joãozinho Trinta pentecostal. Será que ele ainda vai regurgitar a seu jeito um esoterismo do tipo Paulo Coelho no caminho de Santiago de Compostela? Uma coisa todos eles têm em comum: a potente capacidade de comunicar tudo junto e misturado.

Na minha adolescência, fui apresentado ao Edir Macedo por insistentes denúncias no jornal O Globo.  Só agora entendo o que o Roberto Marinho, esse genial caçador de cabeças, um anticomunista capaz de ganhar dinheiro com Dias Gomes, temia.  A via de subversão semiótica da ética e da metafísica cristãs.  

Uma amiga me pergunta:  Aonde vamos parar com isso?  Respondo.  Onde já estamos.  Ouvindo funk que entra pela janela, procurando vaga em estacionamento dalgum outlet e lotando parques temáticos da Flórida nas férias.  Se é assim, por que não orar no templo de Salomão? Porque, se não é para cultivar preconceitos demofóbicos, é o caso de se prevenir de tentações populistas.